quarta-feira, 18 de maio de 2011

Casa e Família: Abuso sexual de crianças

por Anna Mocellin




É em casa que acontece grande parte da violência sexual. Poucos casos são denunciados

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Crianças confusas

Segundo Vânia, apesar do trauma de ter sido abusada, cada criança reage ao fato de maneira diversa: "Cada caso é um caso. Ela pode ter um comportamento sexualizado precoce, masturbação compulsiva, não se sentir querida ou amada, achar que não pertence ao grupo infantil e isolar-se dos amiguinhos, sentir-se suja ou não apropriada. Pode, inclusive, sentir prazer e até vontade de continuar o abuso, para sentir mais proximidade, carinho ou atenção do abusador. São vários os lados da questão: há crianças que gostam, outras que sofrem. Mas nenhuma delas entende realmente o que está acontecendo".


Algumas crianças, inclusive, continuam gostando do abusador, pois têm uma relação de parentesco com ele. Outras desenvolvem uma fobia muito grande de se aproximar dele e começam a apresentar reações físicas, como dor no corpo ou dor de barriga. Podem até pensar em suicídio, pois o trauma é muito forte. Até mesmo a maneira como a família reage diante da descoberta do abuso influi em seu comportamento. As marcas psicológicas perduram pelo resto da vida. "As conseqüências emocionais para a criança ou adolescente são bastante graves, tornando-as deprimidas, inseguras, com problemas sexuais ou de relacionamentos íntimos", afirma Mônica.

Como a maior parte dos casos não apresenta marcas nos órgãos sexuais, geralmente os exames de corpo de delito não detectam o abuso. Então, a melhor forma de descobrir como ele aconteceu é entrevistar todas as pessoas envolvidas: a criança, a família e o próprio abusador. A própria Abrapia tem um programa, o Sentinela, que avalia a criança/adolescente e a família, com o auxílio de profissionais capacitados. Segundo Vânia, não é nada fácil convencer a criança a falar. "É um trabalho que precisa ser feito com cuidado. É preciso ganhar a confiança da vítima para conseguir que ela conte o que ocorreu. Muitas preferem contar o abuso através de desenhos ou da representação do ato com bonecos que possuem a genitália e os orifícios aparentes", diz. Entretanto, há casos de abuso que nunca vêm à tona. Com isso, levam para a vida adulta problemas como frigidez, dificuldades de relacionamento afetivo ou necessidade de se aproximar sexualmente das pessoas para obter algum tipo de atenção.

Em família, o caso fica bem mais complicado. Há mães que sabem o que está acontecendo, mas não sabem o que fazer. Segundo Vânia, há as que acreditam na criança e procuram ajuda, inclusive se separando do abusador. E ainda existem as que não conseguem acreditar. "Elas acham que aquilo não é verdadeiro, pois a situação bate de frente com as suas questões de sexualidade", diz a psicóloga. Já as que nunca desconfiaram de nada, ao descobrirem o abuso, se sentem culpadas por não terem protegido a criança.

A recomendação é acreditar na versão da criança. "Se ela relata isso para alguém, a pessoa tem de acreditar nela e encaminhá-la ao Conselho Tutelar. Cada criança tem uma forma própria de revelar o abuso, mas é necessário acreditar nela. E, se for uma situação que lesionou órgãos sexuais, o melhor é levá-la a um hospital", recomenda Vânia Abreu.


Como agir

Mas o que fazer quando se descobre um caso de abuso sexual dentro da família? O primeiro passo é procurar pessoas especializadas no assunto - como psicólogos, psiquiatras e instituições de apoio à criança e ao adolescente. São pessoas capacitadas para lidar com o problema e que podem orientar a família a gerenciar melhor a situação. Outro passo importante é notificar o Conselho Tutelar da localidade, um hospital ou um posto de saúde, para buscar assistência à criança. "É preciso denunciar, pois o abuso sexual é crime. A criança ou o adolescente não é responsável pela violência que sofreu. Existe toda uma parte jurídica envolvida, devido à violação da criança e à responsabilidade penal do abusador. A família deve protegê-la e tirá-la das mãos de quem a abusou. Quanto mais cedo isso for feito, melhor", afirma Vânia. Mônica concorda. "É importante que se afaste a criança do local para sua própria proteção e que se busque, o mais rápido possível, a ajuda de um profissional especializado, para que este faça o encaminhamento da situação da melhor forma possível", recomenda.


Fonte: MSN Mulher

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